Seguros Corporativos

Open Insurance no Brasil – Tremendo Desafio pela frente

Nos últimos anos, o Brasil deu um salto significativo na digitalização dos…

Helio Kinoshita

24 de fevereiro de 2025

Nos últimos anos, o Brasil deu um salto significativo na digitalização dos serviços financeiros com a implementação do Open Finance, um ecossistema que promove a interoperabilidade e o compartilhamento seguro de dados entre instituições financeiras. Esse modelo, inspirado em experiências bem-sucedidas como o Open Banking no Reino Unido, prometeu mais competição, inovação e melhores produtos financeiros para os consumidores.

Agora, o Open Insurance enfrenta os mesmos desafios com a implementação enfrentados nas fases iniciais do Open Finance, com questões tecnológicas e regulatórias, acarretando atrasos na sua implemtenção. Até agora, estima-se que foram gastos pelo mercado mais de R$ 120 milhões e o que percebe-se, por ora, é que o Open Insurance contribuiu apenas no avanço da criação de APIs pelas Seguradoras. Será que conseguiremos repetir os avanços do Open Finance? Ou estamos diante de um modelo que pode sofrer entraves devido à complexidade regulatória, à estrutura do mercado segurador e à falta de canais digitais para adesão ao sistema?

Do Open Finance ao Open Insurance: O Que Aprendemos?

O Open Finance no Brasil trouxe aprendizados importantes. A adesão das instituições financeiras, embora tenha ocorrido de forma gradual, demonstrou o potencial de um sistema baseado no consentimento do cliente e no compartilhamento de dados padronizados. No entanto, também ficou evidente que a regulação e a governança desempenham um papel fundamental na viabilização desse ecossistema.

A lógica do Open Insurance segue a mesma premissa: permitir que os consumidores compartilhem seus dados com diferentes seguradoras e insurtechs, criando um mercado mais transparente e competitivo. O objetivo é facilitar a personalização de produtos, aumentar a eficiência operacional e gerar inovação, estimulando a venda de seguros novos e almejando como meta aumentar a participação do setor de seguros no PIB para 10% até 2030. Contudo, existem desafios que tornam a transição para esse modelo mais complexa do que foi no Open Finance.

Os Desafios do Open Insurance no Brasil

Embora o Open Insurance seja uma evolução natural do Open Finance, algumas particularidades do setor de seguros no Brasil podem dificultar sua implementação:

– Regulação e Estrutura do Setor

O mercado segurador brasileiro é fortemente regulado pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) , o que gera um nível de complexidade maior do que no setor bancário. A criação das SPOCs (Sociedades Processadoras de Ordem do Cliente) adiciona uma camada regulatória que não existiu no Open Finance, o que pode impactar a adesão ao modelo e aumentar os custos operacionais.

– O Papel dos Corretores e a Complexidade da Adesão

Diferentemente do setor bancário, onde os clientes têm um relacionamento direto com os bancos, no mercado de seguros o relacionamento do segurado com a seguradora é intermediado por corretores. Isso levanta uma questão fundamental: o segurado adere ao Open Insurance por meio da seguradora ou da corretora que o representa?

Essa camada adicional de intermediação pode gerar dificuldades na experiência do cliente e na adesão ao sistema. No Open Finance, a adesão ocorre diretamente pelos internet bankings ou aplicativos próprios dos bancos, canais que já estão consolidados e acessíveis. No entanto, nem todas as seguradoras possuem portais ou canais digitais para seus segurados, tornando o processo de consentimento e compartilhamento de dados um grande desafio.

Se os clientes não tiverem uma maneira fácil e digital de aderir ao Open Insurance, há um risco significativo de baixa adesão ao sistema, comprometendo seu impacto no mercado.

– Interoperabilidade e Padrões de Dados

O setor de seguros trabalha com dados altamente fragmentados e muitas vezes não estruturados. Diferentes seguradoras possuem sistemas legados que não foram projetados para integração fácil, tornando o processo de padronização e interoperabilidade mais desafiador.

– O Papel das SPOCs e o Desafio da Adesão

No Open Finance, o compartilhamento de dados ocorre diretamente entre as instituições, mas no Open Insurance a relação direta entre seguradoras e clientes ainda é uma barreira a ser superada. As SPOCs serão responsáveis por intermediar o consentimento do cliente e garantir a segurança no compartilhamento de dados. Contudo, sua função ainda gera questionamentos sobre eficiência, custos e possível concentração de mercado.

– SRO: Uma Sobreposição Desnecessária?

O projeto SRO (Sistema de Registro de Operações), também supervisionado pela SUSEP, visa registrar todas as operações de seguros, previdência e capitalização em um ambiente centralizado. No entanto, há um risco de sobreposição entre o SRO e o Open Insurance, pois ambos lidam com o armazenamento e compartilhamento de informações dos consumidores. Isso pode gerar redundâncias, burocracia desnecessária e altos custos, em vez de impulsionar a inovação.

Conclusão: O Brasil Está Pronto para o Open Insurance?

O Open Insurance tem o potencial de transformar o setor de seguros no Brasil, assim como o Open Finance revolucionou os serviços financeiros. No entanto, as particularidades do mercado segurador, a rigidez regulatória, a ausência de canais digitais consolidados e a complexidade da intermediação por corretores podem dificultar sua implementação.
Se o objetivo é replicar o sucesso do Open Finance, é fundamental que os reguladores e as empresas do setor trabalhem para garantir que o Open Insurance seja menos burocrático, mais eficiente e verdadeiramente inovador. Caso contrário, corremos o risco de criar um sistema travado por regras excessivas, que pode afastar seguradoras, insurtechs e até mesmo os consumidores.

O desafio está lançado: conseguiremos fazer do Open Insurance um marco positivo para o setor, ou estaremos apenas construindo mais uma estrutura complexa e pouco funcional?

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